19 de julho de 2005


«Devíamos ter estranhado quando, há poucos meses, quisemos falar com Miguel Esteves Cardoso e ninguém (ou quase ninguém) tinha o contacto.»
Versão Periférica

Eu consegui! Ora leiam, s.f.f.:

"Assunto: Sobre o Ballet Gulbenkian

Caros senhores,
Serve esta missiva para vos dar os parabéns por mais uma excelente iniciativa em prol da cultura no nosso país, no caso em apreço a tão aguardada e sempre ansiada extinção do Ballet Gulbenkian. De facto de há muito tempo que era notório que uma companhia de repertório com créditos firmados, prémios ganhos, um corpo de bailarinos fora de série, colaborações com alguns dos melhores coreógrafos da actualidade e a apresentação nos palcos portugueses de há longos anos a esta parte (tanto quanto me foi possível apreciar) de algumas peças de dança contemporânea verdadeiramente estimulantes, isto para não referir a apresentação nos palcos internacionais daquela que era uma bandeira portuguesa (sim, portuguesa...) de verdadeira excelência, repito, de há muito tempo a esta parte (pelo menos 40 anos) que era notório que não prestava nenhum serviço digno à cultura do nosso país.

Assim, e correndo risco de me repetir mais uma vez, apenas me resta aplaudir e dar os parabéns à fundação criada em tempos pelo senhor Calouste Gulbenkian, por mais uma decisão tão bem ponderada e igualmente programada no mais absoluto respeito pelo seu público e profissionais do Ballet Gulbenkian, a qual inclusive, permitiu que fossem impressos milhares de exemplares da programação da temporada 2005/2006 onde ainda constam os vários espectáculos do Ballet Gulbenkian para a próxima temporada, o que reflecte sem sombra de dúvida, o quão bem foi programada e executada esta decisão, permitindo que os programas da próxima temporada estejam - desactualizados ainda antes da mesma ter começado. Isto reflecte também, e muito a propósito nos dias que correm, um quadro de gestão rigorosa e de contenção de custos.

Agora, que finalmente se torna claro o quadro de excelência que preside aos destinos da Fundação Calouste Gulbenkian aproveito também para vos dar os parabéns, Caros senhores, pela excelsa decisão de terem terminado há cerca de dois anos com os marcantes Encontros de Música Contemporânea. De facto, que serviços foram então prestados à cultura deste país, com por exemplo, a audição da integral das Sequenzas de Luciano Bério?
O meu bem-haja, caros senhores.

E se após longas horas, dias, meses de igualmente bem ponderada e programada tomada de decisões, no mais absoluto respeito pelos profissionais e público da Fundação, caros senhores, se decidirdes extinguir o Coro e Orquestra, contai comigo e com muitos outros atentos à cultura no nosso país para aplaudir de pé e na primeira fila um tão brilhante caminho traçado. Bem hajam e obrigado,

Miguel Esteves Cardoso

ps - agora a brincar; o senhor Gulbenkian enamorou-se deste país, não das suas gentes certamente... Ou como diria o Eça, Portugal não é um país, é um sítio mal frequentado.

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Eu vou demonstrar o meu desagrado. Alinha?

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